CONTUMAZ
Certa vez me disseram que
O rosto não era meu
Que aquilo que eu ouvia era apenas ruído
Que meu paladar não sabia a nada
Que o que via com meus olhos
Era a miragem daltônica no meio do deserto.
Deserto estava meu coração
Os que eu amava fugiram numa revolução
E imaginei que meu amor era mera ilusão.
Cada vez que concordava com todos
Todos discordavam de mim.
O medo das palavras me perseguia
Quando as usava, quando as ouvia.
Diante do espelho, um estranho me observava
E dizia, com a eloquência do silêncio contumaz:
-Você não é você, meu rapaz!
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