Quando vou a uma livraria fico imaginando quão rico é aquele universo.
Ao ver as novidades que me interessam, logo sinto aquela sensação de impotência
ante a ausência de tempo suficiente para dar conta da leitura de tudo aquilo.
Seria extraordinário se tivéssemos tempo para ler tudo aquilo de que gostamos.
Melhor: tempo para fazermos tudo que temos vontade.
No entanto, ontem, ao passar por uma dessas imensas livrarias, algo me
chamou a atenção: um livro com o título “Mil lugares que você precisa conhecer
antes de morrer.” A princípio, achei o título
e fiquei imaginando como deve ser fantástico conhecer todos esses
lugares. Mas logo constatei que uma vida – por mais abastada e cheia de
dinheiro – não é suficiente para conhecer esses mil lugares.
Por outro lado, o título é apenas sugestivo, pensei. São opções que você
tem para conhecer durante a vida, não há necessidade de conhecer os mil
lugares. É...mas o verbo “precisar” é impositivo nos faz imaginar que, para
morrer feliz, preciso conhecer
exatamente os mil lugares.
Não andei muito e encontrei, na estante ao lado, outros livros com
títulos idênticos: “Mil vinhos para tomar antes de morrer”; “Mil
livros que você precisar ler antes de morrer”; “Mil filmes que você precisar
assistir antes de morrer”.E por aí vai.
Toda essa profusão de títulos me fez concluir que, segundo essas cartilhas, para
viver bem, é preciso quantidade e não qualidade. Ou seja, os livros também viraram uma forma de pedágio
para a cultura consumismo irracional.
Não é de hoje que a sociedade
pós-moderna nos incutiu a ideia de que você só tem utilidade se consumir: o
consumo é a redenção de todos. Trata-se de um conceito individualizado, de
costas para subjetividade e de olhos fechados para a coletividade.
No entanto, poucos se deram conta de que esse “fetichismo” pelo consumo
irracional nos transformou em mercadorias, alienando-nos a cada dia que passa.É
o que o sociólogo francês Georg Lucáks chamou de reificação.
Ao mesmo tempo, a
quantidade de informações disponível a todos, por intermédio da facilidade de
acesso à internet, tornou tudo instantâneo, pois, para termos acesso à mais
informação, não vamos mais à banca de jornal; os shoppings se tornaram
virtuais. O gesto de consumir está ao alcance de apenas alguns cliques no mouse
ou toques na tela.
Ao analisar o
fenômeno das redes sociais, o sociólogo polonês Zygmuth Bauman, em sua obra
“Vida para o Consumo”, alerta para a constatação de que as relações sociais
também passaram a ser mediadas pelo consumo.
Vale ressaltar que esse Consumo não é necessariamente das tradicionais
formas de mercadorias, mas de cultura, de hábitos, de valores, de aparências e
de ideologias.
Assim, na sociedade
onde o padrão de consumo e da cultura de massa prevalece sobre as manifestações
artísticas legítimas e as relações humanas, não há que se falar em
subjetividade, pois ninguém pode se tornar sujeito antes de se tornar
mercadoria. Todos devem se submeter ao padrão do mercado.
Nessa sociedade,
percebo que o conceito de subjetividade dá lugar à ideia de individualismo.
E individualismo é o
réquiem de uma sociedade sem criatividade.
Adorei seu texto, Osmar! É exatamente isso. Às vezes parece que não vivemos nada se não conhecemos os tais 1001 lugares para conhecer, se não ouvimos as 1001 músicas para ouvir ou lemos os 1001 livros para ler... Por que não inventam 1001 maneiras de não fazer nada, né?! rsssssssss
ResponderExcluirAcho que isso até seria uma boa ideia porque num mundo tão doido, tão rápido, parece que o difícil está sendo exatamente não ter nada para fazer!
Um abraço!