É comum ouvirmos que a educação deve ser prioridade de uma
nação em desenvolvimento. Isso é dito
por políticos, jornalistas,
apresentadores de rádio e TV, articulistas de jornais, blogueiros de
plantão, além de diversos profissionais liberais. A sentença é praticamente uma
verdade geral. De igual modo, quanto se fala dos problemas em educação, a
preocupação unânime gira em torno da falta de recursos ou de prioridade no financiamento
da educação por parte dos governantes.
Tudo isso não deixa de ser relevante, mas o que me preocupa não é só isso. Quiçá, o principal dilema
hoje em relação ao assunto, para mim, é a forma como é feita a educação nas
salas de aula, o que me permite afirmar com todas as letras e com honrosas
exceções, que o único ofício que insiste em não evoluir, nesses 500 e poucos
anos de história, é a nossa forma de ministrar as aulas. Ou seja, fazemos hoje que os jesuítas
faziam quando chegaram ao Brasil no Séc. XVI.
E isso é de fácil constatação, a começar pela organização da
sala de aula, em que as cadeiras dos alunos ficam enfileiradas e o professor no centro de tudo, transmitindo o
conteúdo aos alunos. Estes têm apenas a responsabilidade de entender a visão
passada pelo professor e resolver exercícios e provas com base nisso, para,
assim, obterem a aprovação. Pouco espaço
para o debate e para a construção e transformação do conhecimento. Se um aluno
questiona o entendimento do professor, logo é considerado um sujeito que “quer
aparecer”. Quer forma mais arcaica de compreender o ato de ensino-aprendizagem?
Diversos são os teóricos, desde o Renascimento, que condenam
essa forma de educação, herdada certamente do obscurantismo da Idade Média.
Michel de Motaigne foi um desses questionadores. Ele partia do pressuposto de que o conhecimento
objetiva a formação de um homem ou mulher completos. O alvo de sua crítica era essa
forma de ensinar meramente expositiva, centrada professor e na passagem do
conteúdo a todo custo. Para ele, é preciso educar o juízo do aluno, em vez de
encher-lhe a cabeça com palavras. Uma visão muito próxima do que os modernos
educadores pregam para a o ensino. Paulo
Freire criticou a forma tradicional de educação, denominando-a educação
bancária, preocupada em depositar o “conhecimento de quem sabe” no “vazio de
quem não sabe”.
Para isso, mais do que nunca, vejo que o objetivo do
professor é abrir o caminho para a leitura do aluno acerca do objeto do
conhecimento e não dizer-lhe a forma como deve
conhecer. Vejo que a preocupação
dos verdadeiros mestres é com a substância e não apenas se entendeu as palavras
que usou naquela lição. Assim, os alunos deixam de ser objetos e passam a ser
sujeitos do processo de ensino-aprendizagem,
o que gera cidadãos mais críticos e, por conseguinte, menos submissos.
Portanto, para a compreensão dos verdadeiros objetivos da
educação, a metáfora da abelha me parece a figura mais oportuna para explica-los.
O mel produzido pelas abelhas não é o resultado da mistura do néctar que elas sorvem
de várias flores, mas de um processo de transformação no interior de seu
organismo. Se elas simplesmente
misturassem os néctares, não teríamos mel. Assim é o conhecimento: não basta pegar as
várias informações e juntá-las, é preciso interpretá-las com base em nossa
visão de mundo e no contexto. Educação é isso. O resto é mera transmissão de
informações.