Impressiona-me como
algumas músicas do passado nos despertam nostalgia. De repente, somos
transportados no tempo para reviver uma época remota de nossa vida. Ao analisar
a nossa trajetória, temos a impressão de que a nossa vida - como numa produção
épica - é feita de episódios com um
protagonista vivido por vários atores. Além das condições da época, o tempo é
o principal agente dessa transformação.
Nessa retrospectiva
interna, percebemos que muito dos desafios da época foram alcançados, outros
esquecidos ao longo do tempo ou simplesmente substituídos pela realidade. O
desejo de voltar no tempo e refazer ou tomar outras decisões sempre foi a
grande aspiração humana e, por razões óbvias, vencer as barreiras que o tempo nos
impõe tem sido a maior limitação.
O Deus Cronos controlava
o tempo na mitologia grega. Zeus, seu filho, ao destroná-lo e acorrentá-lo
conseguiu controlar o tempo, conferindo a imortalidade aos deuses. Cronos era
representado como um ancião empunhando uma foice e frequentemente aparecia
associado a divindades estrangeiras propensas a sacrifícios humanos. Daí a
noção de imortalidade associada ao tempo, que deixou de ser exclusividade dos
helênicos e alcançou a cultura mundial.
A nossa impotência em
relação ao tempo passado é a fiadora de nossas frustrações, principalmente
aquelas em que deveríamos fazer algo e não fizemos, a pior de todas, na minha
avaliação. Nessa lista se encontram ainda as omissões, as oportunidades
desperdiçadas, as mulheres não amadas. Em outras circunstâncias, vivemos um
momento do passado como se fosse sempre melhor que o presente.
Já o tempo futuro
carrega em si o mistério, limitado pela eterna hipótese existencial de cada um.
Lord Byron dizia que o melhor profeta do futuro é o passado. A frase do poeta
inglês do romantismo aparentemente nos traz a ferramenta necessária para
entender o nosso destino, no entanto não é suficiente para nos livrar da eterna
dúvida acerca do futuro, até mesmo porque, para nós, temos a esperança de que o
futuro será sempre melhor que o passado.
Assim, podemos perceber que uns se
alimentam com as glórias do passado; outros vivem a acalentar o sonho de um futuro. Todavia,
poucos são os que enxergam a beleza do presente.
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